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PATRÍCIA E EU


Sentou-se para descansar. Ali mesmo naquela escadaria imunda.

Limpo ou sujo não fazia mais diferença. Priorizava os mandos do corpo.

Abriu a bolsa onde carregava a vida e tirou de lá uma garrafa de água de chuva para aplacar a sede, resultado de um calor escaldante tão característico daquela geografia.

O ar circulando arejava os pertences que incluía uma boneca encontrada no lixão que costumava frequentar na procura de alimento para sobrevivência do dia.

Assim que avistou aquele brinquedo imaginou logo que serviria de distração e mimo para alguma criança necessitada.

Será que as meninas de hoje ainda brincam de “casinha”? Pensou.

Os dias foram passando e como nenhuma criança passou em seu ângulo de visão ela mesma foi se afeiçoando à boneca.

Chamou-a Patrícia. Achava este nome lindo. Conversava e dividia com ela tudo que era o seu mundo.

Como não tinha ninguém para chamar de seu, fez dela sua família.

Não lembrava o motivo de não ter filhos. Pais nunca soube ter tido, ainda que sua existência a contraditasse.

De onde veio e para onde ia era um grande enigma. Sorte não ser curiosa.

Não fazia diferença.

Estava viva por complacência divina.

Patrícia a escutava.

A pandemia não via nem sentia.

Deixou-se fotografar e sorriu.

Restava-lhe a alegria de ter nascido um dia.




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