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FALHOU




Não sabia o que fazer, ou melhor, sabia.

Acordava, tomava café, banho e encarava o trânsito para chegar ao trabalho.

Respondia perguntas, interagia com os colegas. E mais café - sem açúcar.

O dia terminando e com ele o ânimo para fazer qualquer coisa diferente de deitar na cama e dormir.

Deprimia por dentro. Por fora ninguém notava. Sorriso de canto de boca, olhar perdido no sapato. Atos de acarinhar nos amigos - presentes escolhidos cuidadosamente mais por razão do que por emoção.

Sonhava muito, realizar era o dilema.

Esperava a morte todos os dias. Não entendia a vontade de viver alheia.

“Loucas” – pensava.

Não concebia que pessoas desfavorecidas sob qualquer aspecto pudessem colocar tanto empenho em sobreviver.

Boquiaberto admirava e se emocionava com a superação delas, mas o exemplo não lhe servia.

Rastejava. Esgueirava-se pelos cantos da vida.

Nada o desafogava ou lhe satisfazia o intelecto cético e o coração petrificado.

O corpo estava vivo, mas dentro era oco.

Pensava em desaparecer, porém não havia plano que o fizesse sumir de si.

Como um bumerangue o pensamento voltava.

Não falhou na civilidade. Falhou consigo.

Pedia para ser preso. Implorava para ser internado.

Confessava na esperança de ser perdoado.

Nada o libertava.

Impôs-se uma pena: “Viveria até o último dia”.




Imagem: Unsplash/Chuttersnap

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