A cigarra cantou ontem. Devia estar bêbada ou louca.
Não fez sol.
Perdeu-se na temperatura e no tempo.
As formigas estão trabalhando.
Não entendia o contexto, por isso cantou ontem a esmo.
Presa em seus pensamentos já não sabe mais se é cigarra ou esperança.
Olha para baixo examina seu corpo e certifica-se que ele não é uma folha.
Sem esperança. Não é esperança. Compreende.
Canta de novo um canto sofrente.
A luz fugaz ilumina o mundo ausente.
O canto vira grito que vira guincho que vira ganido que vira gemido.
Geme prudente.
É permitido assobiar. Ciente.
Não dorme. Só dorme.
Viverá pouco. Consciente.
Esganiçada acordou dormente.
Sem aurora nem poente.
Avisará ao astro rei que se faça ausente daqui para frente.
Imagem: Unsplash/Filipe Resmini
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