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O CAOS

No princípio era o Caos. Pelo jeito o fim também será.

Na rua todos loucos. Uma exibição espetacular de egos eivados do sentimento de que são únicos no mundo.

Falam ao telefone como se não houvesse ninguém do lado. Reclamam de contratos, discutem relacionamentos, orientam filhos, confidenciam aos amigos, tudo ali ao alcance de nossos ouvidos que não são moucos.

Somos o tempo todo solicitados a participar da vida daqueles que não conhecemos. Cativos espectadores.

Triste sina esta de fazer parte de um bando de individualidades. A religião coadunada com a política vem defendendo diacronicamente a reprodução de quem, enquanto espécie insiste em ser único.

Aos olhos do outro somos todos invisibilizados. Visíveis somente enquanto massa, mole, gélida, argilosa e formatada conforme a vontade do pseudocriador.

Todos gritam, berram e atropelam. No trânsito uma batalha. A agressividade é intrínseca à virilidade ao volante.

A educação só se conquista com troca em moeda. Só fica educado quem é multado.

Nas comunidades. Uma guerra. Todo mundo perde. Ninguém ganha.

Nas cidades o meio ambiente ignorado e vilipendiado.

Nos transportes uma selva. Saímos de casa direto para savana.Praticamos o corpo a corpo para embarcar. Corrida para conseguir sentar. Salto em altura para desembarcar, resistência de maratonista para escapar ileso em um dia útil. Uma raça humana eivada de desumanidade. Não há o sentido do comum. O outro não sou eu. As novas gerações frutos da procriação por tradição, o que herdarão? O lema é: o que penso é o certo; o meu voto é o correto, se você discorda, sai de perto. Assim caminha nossa humanidade. Às turras, em hordas, guiadas, teleguiadas e sob efeito manada. Na política. Nada. O que nos salva: prazer, café e emoção. Mas isso é outra crônica.a selva.

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