Chegou cantando de galo, acompanhado de mais três galos.
Insistia em ciscar, com os olhos arregalados e mente inquieta dava a impressão de querer ser boi.
Nefelibata não percebeu não estar no pasto.
O pavão alfa abriu suas penas e o galo com síndrome de vaca louca maravilhou-se.
Achou que o pavão o tinha reconhecido. Tolo.
Em um reboleio de palavras dançava uma música que só ele escutava.
Duvidei se era mesmo um galo. Nunca tinha visto um galo que não canta.
A macacada não se animou. Só o pavão, que narcisista em sua fotografia usava o pobre do galo para uma exibição não patrocinada de sua arrogância.
O cachorro latiu em uma tentativa inglória de mostrar o equívoco no exercício de sua lateralidade.
As peruas se inflamaram.
E o galo continuava a divagar na hermenêutica da língua num transe esquizofrênico de contorcionismo e dança tribal.
As araras, antes tranquilas, ficaram agitadas. Aquele galo já estava a incomodar.
Quando o caos se instalou os outros três galos bateram em retirada. Incompreendidos porém entendedores de que ali não era um galinheiro, nem poleiro, muito menos um telhado, foram para trás dos montes procurar outros galos em outras manhãs.
Vencido ficou o galo. Rebaixado e confuso. Soterrado pelas palavras regurgitadas da bicharada.
Virou oferenda para entidade sagrada.
É como digo: É sempre bom sabermos o que estamos fazendo e onde.
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